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Pepino é mais eficaz no tratamento de Alzheimer do que o piracetam?

11 Out 2023 - 09:02
falso

Pepino é mais eficaz no tratamento de Alzheimer do que o piracetam?

Circulam vários vídeos nas redes sociais em que se alega – com base num estudo de 2014 – que o pepino é mais eficaz a tratar a doença de Alzheimer do que o fármaco piracetam. 

Segundo o autor de um dos vídeos, no estudo em causa, os investigadores “compararam o piracetam com o pepino e o resultado é que o pepino se saiu muito melhor”. Alega-se ainda nestas publicações que a ingestão do alimento “melhorou a memória”, “protegeu contra a perda de memória” e “melhorou a cognição”.

De acordo com os autores destes posts, para se ter esses supostos benefícios deve-se ingerir, todos os dias, “3 gramas de polpa de pepino para cada quilo de peso”. Por isso, acrescenta o autor do post, “se tiver 100 kg, tem de comer 300 gramas de pepino”. Mas é verdade que o pepino é eficaz no tratamento da doença de Alzheimer?

É verdade que o pepino é mais eficaz a tratar a doença de Alzheimer do que o piracetam?

Há várias informações falsas e imprecisões nestas publicações. Em declarações ao Viral, a neurologista Cristina Ionel adianta, em primeiro lugar, que o piracetam não é prescrito em prática clínica para o tratamento da doença de Alzheimer. Além disso, sublinha, não há evidência científica de que o pepino seja melhor do que o piracetam na atenuação dos sintomas de demência.

Cristina Ionel começa por explicar que “o piracetam é um fármaco bastante antigo”, que começou a ser fabricado nos anos 70. A neurologista cita uma revisão sistemática “em que não se recomenda o seu uso com essa indicação”, isto é, “em doentes com demência ou com défice cognitivo”. 

Em Portugal, este fármaco “é comercializado, mas está indicado para o tratamento adjuvante de outro tipo de patologias, como mioclonias corticais”, justifica. 

Para mais, o piracetam “também não está aprovado com a indicação na doença de Alzheimer nem nos Estados Unidos, nem no Reino Unido, nem em França”.

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Em relação ao estudo citado nas publicações, a especialista aponta várias limitações. Em primeiro lugar, “o estudo é feito em ratos, durante 15 dias”. Além de ser uma investigação de curta duração, é feita em animais, tornando “difícil extrapolar os dados para humanos”, afiança.

Por outro lado, o estudo é feito com base em três grupos de ratos: “grupo controlo”, “o grupo dos ratos com administração de piracetam” e “o grupo dos ratos com administração da pasta de pepino”. 

Uma das conclusões dos investigadores, de facto, é que “os ratos que tomam piracetam têm melhores resultados nos testes do que o grupo controlo e que os ratos que ingeriram a pasta de pepino também têm melhores resultados do que o grupo controlo”. 

Assim sendo, os investigadores “não comparam diretamente os ratos que ingeriram a pasta de pepino com os ratos administrados com piracetam”. Portanto, não se pode afirmar que o pepino é melhor que o piracetam. 

Em relação aos potenciais benefícios do pepino na doença de Alzheimer, Cristina Ionel informa que só existem estudos em animais, muitos deles com resultados contraditórios

Qual o tratamento para a doença de Alzheimer?

Cristina Ionel começa por esclarecer que “nas demências neurodegenerativas – das quais a doença de Alzheimer é a mais frequente – não existem tratamentos curativos nos dias de hoje”. Apesar de haver vários estudos sobre esta doença, “até agora, nenhum fármaco mostrou uma evidência com intuito curativo”, reforça.

De facto, há pouco tempo, alguns medicamentos para o tratamento da doença de Alzheimer foram aprovados pela agência governamental norte-americana “Food and Drugs Administration” (FDA), mas apenas de forma condicional, “porque, em termos de testes cognitivos, a evidência não foi convincente”, a evidência verificada “foi mais a nível da deposição das proteínas amilóide”, explica.

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Na Europa, frisa, “ainda não existe a aprovação de nenhum destes fármacos”. Assim, segundo a neurologista, “o que está aprovado atualmente são fármacos que mitigam um pouco os sintomas” do Alzheimer, mas “não impedem a evolução da doença em si”. 

São eles “os anticolinesterásicos, dos quais fazem parte o donepezilo, a rivastigmina, a galantamina e, por último, a antagonista do recetor NMDA que é a memantina”.

Além disso, “existem medidas gerais”, que se aplicam a todas as demências. Segundo Cristina Ionel, alguns “fatores protetores” são “uma alimentação saudável”, “a realização de exercício físico”, “a estimulação cognitiva” e “a escolaridade”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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Categorias:

Neurologia

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11 Out 2023 - 09:02

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